domingo, 27 de outubro de 2013

Poema à uma ex jovem hedonista

ATO I

Inda que nos medos-
Naquela rua-
Vi teus olhos lânguidos;
Nada que impeça que o sorrir se dilua.

Anoiteço,
Em cada lembrança
Que diz respeito ao meu tropeço,
Não importa o calor que o dia faça.

Se ainda lhe dedico tudo aquilo
Tantos versos e cigarros sem rumo...
Vendo-te, a razão eu aniquilo;
Tocando-te a certeza eu consumo.

Na rua...
A saudade rima com teu nome
Quando fazes feito nua lua
Que ao menor suspiro de doçura... some.


ATO II

Mais um cigarro.
Quem foi que disse que não pode ser assim?
Me prendo... e amarro.
Quem foi que disse que era pra mim?

Mais um campari
E instabilidade aqui é mato.
Não peço que o peito pare,
Apenas que não escolha por um simples ato.


Mais um poema
E já fica difícil arrumar rima.
Não quero sorriso nem pena
Quando, pra ti, eu não continuo acima.

Viçosa, 26/10/2013

Cristiano Durães

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Jantando

Tanto me peço pra me ver;
Tanto se perde ante o dever...
Em luas e flores não nomeadas
Perguntas dormitam a punhaladas.
Duvidam tanto do amor alheio
E fazem do amor próprio um enleio.

Quero, amor,
Por onde for,
De ti, não o dulçor nauseante do mel,
Mas sim a embriaguez do hidromel.
Quero alucinar-te com o absinto
Que é- simplesmente- tudo o que sinto.

Seja uma dia
Vida e poesia
Nos sonhos dum poeta cansado
Que sempre esteve ao teu lado
Com receio de tomar a frente
E dizer aquilo que sente.

Não busco sabores que já conheço,
Tampouco, duma ceia, o recomeço.
Mas não custa ao mais fino paladar
Tentar, cada prato e vinho, experimentar,
Já que a gente savbe do amargo do desdém
Sem saber qual o sabor que a gente tem.

Ervália, 15/07/2013

Cristiano Durães

Saudades

O que somos?
O que fomos?
Por onde andas?
Através de que ondas?

Somos um par de luvas de lã.
Ora rasgado; ora louçã.
Somos rosas das quais o enxerto
Nunca mais há de dar certo.

Fomos mordidos pelas bocas sangrentas,
Sujas com o néctar que afugentas.
Fomos dilacerados pela fumaça
Da fogueira das dores jamais escassa.

Mar revolto e devoluto
Contra o qual ainda não luto.
Negra lama de anátemas coberta.
Chuva de gritos bate à porta.

Através de uma taça trincada
Que serve de chave para a porta da escada
Que sempre sobe; jamais desce;
A um mundo de onde teu olhar me esquece...

Obrigado... querida... 


Ervália, 02/07/2013

Cristiano Durães

Culpa

Quando a angústia me espera
Entre os anseios e dúvidas em que ando,
Penso e choro, nesse sonho, quando
Descubro o que perdi na realidade austera.

Quantos delírios deixei calarem-se
Sem os gozar de coração e alma!
Ah! Quisera eu mais vidas de enlace,
Perdendo-me no ardor de negra lama.

Sinto as rosas de tempos atrás
Secando-se agora; no princípio desse verão
Tão virtuoso, hipócrita e sagaz.

Cada abraço que perdi sem razão...
Por medo, a dor que não vi tão medaz...
E por vergonha, os versos que não guardei no coração...

Ervália, 29/06/2013

Cristiano Durães

Desejo

Quisera eu, um dia,
Ser o felino que se entrevia
No espelho do quarto claro.
No prazer ferino revelar as garras
E após banhar no sol brincar com amarras,
Como se a inocência não fosse algo raro.

Quisera eu, as vezes,
Ter moradias regidas por meses.
Ser andorinha livre a pairar,
Já que apenas os pássaros e os anjos
Não sentem a angústia dos desejos
Nem a penúria de ondas feito o mar.

Quisera eu (e ainda quero)
Ser, de fato, o poeta austero
Que tudo vê e tudo recama
Em noites de lua cheia
De estro louçã feito o palor da areia...
Tudo sem sequer me levantar da cama...

Ervália, 29/06/2013

Cristiano Durães

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Versos do amor não correspondido

Amo-te tanto meu amor! 
Como a noite que ama a lua;
Como um peixe que ama a água do rio,

Como uma ferida que ama a dor.

Meu amor por ti vai além do horizonte 

E se perde dentre as montanhas...
Se queres saber o quanto eu a amo,
Multiplique as estrelas do céu,
pelas gotas do oceano.

Quando olho para teus olhos negros,

Meu olhar com um brilho fosco,
Se alegra de uma só vez,
Feito o amante na embriaguez.

Mas para ti não posso olhar,
Distante estás em no teu lugar.
E a esperança desse amor tão grande,

Hoje começa a se apagar.

Adeus meu amor, adeus!

De saudades tuas hei de morrer.
Faltou-me a luz dos teus olhos,

Como hei de viver?

Ervália, 26/08/2009

Cristiano Durães

Teus olhos negros

Teus olhos,
Olhando para os meus,
Me lançam frente a todos
E fazem-me sonhar com os olhos teus
 

Teus olhos, 
Que refletiam a luz do luar, 
Enquanto faço do teu colo o leito, 
E do momento um motivo para se alegrar.

Teus Olhos,

Me enchem de esperança devagar 
E apunhalam fundo o coração;
Em um lugar que jamais poderei chegar.

Teus olhos,
que hoje me fazem desditoso,

Na grande ira de amar
E no desejo impetuoso.

Teus olhos,

Que atordoavam minha dor
De não poder sempre sentir,

O teu inigualável calor.

Meus Desejos,

Hoje não se mostram tão íntegros.
Lembro do que jamais aconteceu
Quando olho para esses teus olhos negros...




Ervália, 07/02/2010


Cristiano Durães